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domingo, 27 de maio de 2007

O Cinema que me emociona


Nasci no final da década de 60, filho de Pai jovem advogado e Mãe tardia bastante entusiasmada a ponto de ignorar o entorno político, as conquistas de sua época e mudar de emprego para tomar conta apenas de casa, marido e filho.

Meus Pais saíam sempre para o cinema aos sábados a noite, domingo era dia de meu Pai sair comigo, contar histórias vistas por ele e explicar o mundo para a minha fase o que é isso. O resto da semana era eu e minha mãe. Sete anos depois do meu nascimento, ela morre: vítima de broncopneumonia, empáfia médica e doença autoimune. O que me lembro dela além dos argumentos de filmes que ela assistira, são dos pequenos bonecos de guerra, seu cuidado comigo e de surras memoráveis. Desse tempo ficaram compactos de Vinícius e Toquinho, os LP´s de Chico e um disco de Caetano que falava do dia em que ele veio embora e não tinha nada demais.

Depois desse final de família, meu pai se transformou em um personagem de Bukowsky e as grandes histórias vinham das revistas em quadrinhos que me acompanharam durante toda a vida. Cascão, Brasinha e Pato Donald são alicerces da minha alfabetização e de minha forma de contar histórias. Minha Nouvelle Vague foi Batman de Frank Miller, anos mais tarde. Fui ler Tom Sawyer depois dos 20 anos.

Com a morte de minha mãe, passei uma temporada com meus avós paternos, interior de Minas Gerais. O cinema tinha cadeiras da barca de Niterói e um acervo de filmes de sotaques nunca sequer escutados por mim. Filmes típicos de cinema de poeira: Western espaghetti, Hércules e outros heróis italianos ridiculamente anabolizados, brigas e tiros. Meu sério avô me levava neste cinema em que o banheiro não tinha teto e o melhor de tudo era feito por Sergio Leone e um tal de Sartana. Mais tarde descobri que um era diretor e o outro apenas um personagem vagabundo e sensacional. Alguns anos depois este mesmo avô estaria viúvo e morando comigo e meu pai por dois anos até sua morte solitária em uma visita a Minas Gerais. Meu pai abandonara o estilo Bukowsky de ser.

Já rapaz assistia a filmes do circuito comercial, ação e aventura. Isso será mudado por uma namorada a quem também devo a ida ao Museu de Belas Artes, sinceramente acreditava que no Rio de Janeiro existisse apenas o Museu da Quinta da Boa Vista. Conheci o Paissandú e os cinemas de outros sotaques que não dominava: Francês, Alemão e o Oriental. A minha contrapartida foi apresentar muitas horas de ensaio de uma banda de heavy metal brutal, eu tocava bateria. Este anjo ficou no prejuízo. Esta foi mais uma mulher que muito me ensinou. Os filmes japoneses entraram para sempre em minha vida.

Outra lição feminina foi descobrir o cinema com um sotaque conhecido: o brasileiro. Com quase vinte e poucos anos fui assistir em sessão paga pela primeira vez um filme brasileiro com uma namorada, antes disso lembrava apenas da minha paixão pela Claudia Magno em Menino do Rio em sessões seguidas no Carioca.

Minha busca no cinema é a de redenção. Redenção de minha alma corrupta, de minha maneira bruta de ver as coisas, de meu espírito adestrado por coca-cola, heavy metal e muito machismo. Minha busca é pelos códigos do cinema, pelos padrões narrativos de gosto populares, pelo choque, pela agressão como forma despertar o homem alienado que existe dentro de mim. Eu sei que sou fruto de uma intensa aculturação, meu primeiro disco de música nacional foi comprado no final da década de 80 e se tivesse carimbo de entrada seria da terceira centena para lá. Quero falar de coisas que não falaria, quero rir de mim, chorar com os outros e criticar todo mundo. Preciso documentar os guetos em que eu não iria, para fazer as ficções que eu quero. Preciso entender para ter a verossimilhança a meu lado. Preciso inventar vidas que não tive e aquilo que me alegraria, ou simplesmente que não vivi. Preciso aprender a ver com outros olhos, para que outros possam ver com os meus.