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terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Carta de Roteirista de TV

Nesta tempestade de faixa etária na qual eu mesmo me engajei, não nos
esqueçamos que, para os cineastas, há coisas tão nefastas e até mais
inviabilizantes que esta censura malocada contra a qual nossa
indignação está, no momento, a postos.
Parecerá esdrúxula e extemporânea minha colocação, mesmo porque todo
mundo já sabe o que estou dizendo, mas possuo um certo talento de
resumir as coisas que talvez ajude. Assim, não custa relembrar.
Mais de noventa por cento das salas de exibição são ocupadas pelo
cinema norte-americano. Eles fazem alguns excelentes bons filmes mas
quando os vendem para os exibidores dão de contrapeso um monte de
filmes medíocres ou mesmo ruins. Com estes filmes dados eles garantem
a ocupação das salas pelo cinema deles e tiram as datas dos nossos
filmes. O cinema europeu e outros levam mais uns cinco por cento e
fica o cinema brasileiro com uma vigésima parte do mercado.
A Tv Globo pega os seus produtos já divulgados pela mídia televisiva e
os transforma em filmes, já com seu público assegurado. O faz
diretamente ou com a ajuda de empresas testa de ferro, tal como a
Total Filmes. Estes filmes, com diretores, atores e mesmo técnicos de
Tv, com a certeza de uma boa divulgação televisiva conseguem fácil
distribuição e recursos das distribuidoras estrangeiras, como
Columbia, Warner, etc. Eis aí o cinema brasileiro "vencedor" de hoje.
O cineasta de carreira ou que procura expressar sua autoralidade
encontra um mercado pobre e sem recursos. Até mesmo os Editais do MINC
e da Petrobrás já estão beneficiando claramente o tipo descrito de
cinema "rico". Então, o cineasta que eu chamaria de "verdadeiro" tem
uma pequena chance de conseguir financiamento em um desses poucos
editais. São de 1 para 100, ou menos, as chances dele.
Há, claro, a possibilidade de captação através da isenção de Imposto
de Renda para fins de produção cultural. Aí, há a longa peregrinação
de firma em firma durante anos, ouvindo propostas indecentes de
dinheiro a ser dado por baixo da mesa, em percentagens inacreditáveis
de tão cínicas e abusivas. E mesmo que este aspecto seja, às vezes,
mais brando, há chance de se conseguir algum dinheiro mas sempre que a
história do filme não fira qualquer padrão de bom-mocismo necessário
para que a firma investidora não veja sua imagem maculada e com isso
possa perder crédito entre seus clientes, sempre conservadores. Faz
total sentido esta posição das firmas investidoras; errado é o
espírito de captação, que torna o produtor de cinema (ou teatro, ou
etc) um mendigo a passar o prato e a se submeter a boas maneiras às
quais ele, como artista, não tem nenhuma obrigação de ser fiel. Pelo
contrário.
Como o filme autoral, quando chega à tela, tem pouco dinheiro para a
publicidade, quando ele faz 50 ou 60 mil espectadores é considerado o
maior sucesso. Se a renda do filme consegue pagar a pouca mídia de
lançamento, já é uma sorte. Para o produtor do filme não resta nada.
Já os filmes feitos pela Tv, freqüentemente anódinos como conteúdo ou
como forma, costumam sempre ultrapassar o milhão de espectadores.
Esta é a imagem real do CINEMA BRASILEIRO. As premissas estão todas
aí. Há muitas forças políticas e econômicas no meio mas a realidade é
clara. Ou o Ministério da Cultura se aplica em mudar isso ou
continuaremos mal. Estou em cinema há 40 anos. Passei por governos da
legalidade, pela ditadura, por governos ditos da burguesia e agora o
dito do povo. E nada muda realmente. O cinema deveria ser uma
profissão mas é apenas um hobby e quem o professa tem obrigatoriamente
que ter outras fontes de renda. E mesmo que uma firma faça um longa a
cada 5 anos, ele tem que pagar todas as taxas da existência da firma
que nada consegue produzir. Há como?
Espero que o Carnaval seja bom pra vocês todos. Um abraço.

Alberto Salvá

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